Iaidô (em japonês: 居合道, iaidō é a arte marcial japonesa do desembainhar da espada. Consiste em conjuntos de katas, técnicas ou movimentos que
permitem ao praticante reagir de forma apropriada a determinadas situações.
A tradição e história do iaidō remontam cerca de 500 anos. A arte japonesa de desembainhar a espada
começou provavelmente com Iizasa Choisai, o fundador do estilo Tenshin shōden
Katori shintō-ryū. Essa escola incluía em seu currículo a prática com vários tipos de
armas, desde o uso da katana e do bastão jō ao arremesso de faca e de naginata. Uma parte de seu currículo consistia na técnica de desembainhar rápido
e golpear imediatamente com o uso de espadas, ou seja, o iai. Essa técnica era usada para autodefesa ou ataque preventivo.
Ao longo da história diferentes expressões foram utilizadas para se
referir às técnicas do saque da espada durante o combate. Durante o período
Muromachi (1392-1572) era chamado de battōjutsu. No período Edo ficou conhecido comoiaijutsu.
É reputado a Hayashizaki Jinsuke Shigenobu (1542-1621), como em toda
arte marcial, ter recebido inspiração divina para o desenvolvimento de sua técnica,
assim como Iizasa Choisai. Inspiração essa que o levou a desenvolver um
conjunto de técnicas que denominou Musō shinden jushin-ryū battōjutsu. Aqui, a palavra battō significa simplesmente desembainhar
a espada.
O fator comum relevante em ambas às tradições (escolas) ou ryū, assim como em muitas outras tradições que
lidavam com katana, era que suas práticas envolviam somente o uso de katas,
sempre preconizando adversários imaginários em seus treinos.
A origem do termo iaidô
A criação do termo iaidō é atribuída à Nakayama Hakudo (1869-1952),
o fundador do estilo Musō shinden-ryū.
A denominação atual de iaidō é amplamente usada no meio marcial, em publicações especializadas
japonesas2 e em eventos oficiais para se referir
genericamente à todas escolas, antigas e modernas, que ensinam o iai. Porém
existem críticos à esta denominação, como o mestre Nakamura Taizaburo
(1912-2003) considerando mais correto utilizar o termobattodo, ou iai-battodo.1
Ainda assim, atualmente o termo iaidō é amplamente usado para referenciar a prática
do iai tanto nos koryū quanto nossistemos modernos, como Seitei iai (制定居合) e Toho iai.
Iaidô no Brasil
O início da prática do iaidō no Brasil é incerta. Porém, um "marco" do início da era
moderna do iaidō no Brasil foi a chegada de dois senseis do Japão no Brasil.
Primeiramente Asahi Sensei, em meados da década
de 1970, e posteriormente Nakakura Sensei. Este último
realizou o primeiro exame de graduação de iaidō no Brasil.
O Seitei iaidō é praticado no Brasil a partir da década
de 1980, destacando os Dojos filiados à CBK, como ACEP e Saga. Nesses Dojos podemos destacar o trabalho realizado
pelos Senseis Tadashi Tamaki, Yoshiaki Kishikawa, Mitiko Kishikawa.
Em 1993, o Sensei Jorge Kishikawa funda e inicia a divulgação do iaidō através do Instituto Cultural Niten, chegando posteriormente até a Argentina e Chile. Os principais estilos
praticados atualmente são suiō-ryū, Musō shinden-ryū,tenshin shōden
Katori shintō-ryū e sekiguchi-ryū. Sensei Jorge Kishikawa (7° Dan Kyoshi em Kendō, Menkyo Kaiden no estilo niten ichi-ryū e Shidosha no estilo tenshin shōden
Katori shintō-ryū) estudou por mais de uma década, durante idas anuais ao Japão, com os
Senseis Tadatoshi Haga e Tsunemori Kaminoda. Sensei Haga é 8º dan Hanshi de
Kendō, 8º dan Hanshi de iaidō e mestre do Musō Shinden-ryū.
A partir do final da década
de 1990, a CBK passa a receber senseis japoneses no
Brasil. Destacando-se entre eles Tomoharu Ito Sensei (8º Dan Kyoshi de kendō e de Seitei iaidō), que desde então já esteve no Brasil três
vezes para ministrar treinamentos e participar de bancas examinadoras.
Pela Confederação Brasileira de Kobudô (CBKob), esteve no Brasil em duas ocasiões (2002 e 2005), o Sensei Kaminoda Tsunemori (Presidente da Nihon Jodokai e 8º Dan
Hanshi de Jodô e Iaidô).
Em 2003, veio morar no Brasil o sensei japonês Toshihiko Tsutsumi (6º Dan
Renshi em Iaidô e 5° Dan em Kendô), sendo atualmente o praticante reconhecido
pela ZNKR (Zen Nippon Kendo Renmei) e pela FIK (International Kendo Federation)
mais graduado no Brasil em Iaidô, mestre em Musō shinden-ryū. Seu Sensei foi Hakuo Sagawa (9° Dan Hanshi Iaido e 8º Dan Kyoshi
Kendo), aluno direto de Hakudo Nakayama (fundador do estilo Musō shinden-ryū).
A partir de 2004, através do trabalho realizado pelo Sensei Ichitami Shikanai diversos Dojos filiam-se à CBK para a prática exclusiva do Iaidō. O Sensei Ichitami Shikanai, ainda no Japão,
foi apresentado a Omura Tadaji, discípulo de Hakudo Nakayama, com quem estudou
durante 3 anos. Atualmente o Sensei Ichitami Shikanai é Presidente e Supervisor
do ARJ (Aikido Rio de Janeiro) e estudioso dos estilos shintō Musō-ryū Jo (okuiri) e Musō shinden-ryū.
A partir de 2007, o Sensei Jorge Kishikawa, não mais ligado à CBK, passa a focar na
divulgação dos estilos de koryū, na CBKob.
Também a partir de 2007, com a ajuda de Tsutsumi Sensei, a CBK passa a realizar anualmente
seminários e ao menos um exame de Iaidō, em especial com a prática do Seitei Iaido (Zen Ken Ren Iai), do Muso
Shinden Ryu e do Muso Jikiden Eishin Ryu.
Em 2013 a CBK realizou o 1º Campeonato Brasileiro de Iaido, sendo o
primeiro torneio de Iaido realizado no Brasil reconhecido pela ZNKR e pela FIK.
As categorias foram: Aspirantes e Ikkyu; 1º; 2º e 3º Dan.
A prática do iaidō se reveste de grande profundidade pois o iai tem como objetivo o
autodomínio do praticante e a derrota do adversário sem a necessidade de
desembainhar a katana. Em outras palavras, a conquista psicológica do
adversário sem que haja necessidade do uso da espada.
A prática é feita visualizando-se os inimigos de acordo com os
princípios de cada kata, não tendo necessariamente um oponente físico. Para
fins didáticos, podem-se executar os movimentos com oponentes reais.
Um iniciante na arte utiliza uma espada de madeira (bokutō) ou uma iaitō(espada com lâmina de liga metálica). Os praticantes mais avançados
utilizamshinken, espadas de aço com fio.
Além dos katas, alguns estilos praticam também técnicas executadas com
espadas desembainhadas (geralmente chamadas de kumitachi 組太刀). Outros estilos praticam também o tameshigiri 試し斬り ou o suemonogiri 据え物切り, que é o corte de rolos de palha de larguras
equivalentes a partes do corpo humano.
Estrutura do kata
Cada kata segue a mesma estrutura básica de quatro partes: Nukitsuke
(desembainhar e cortar) Kirioroshi (corte principal com o uso das duas mãos)
Chiburi (retirada do sangue da lâmina) e Noto (embainhar a espada); existem
dentro desse formato variações consideráveis. Dentro das mais comuns
encontram-se: golpear para frente com o tsuka (empunhadura da katana) antes de
desembainhá-la, puxar a bainha (saya) para trás e golpear imediatamente
girando-se para trás, cortar em ângulos diferentes de horizontal e vertical,
e.g.: diagonalmente de baixo para cima e de cima para baixo ou pela lateral,
entre outros.
Formato
O formato do treino varia enormemente de acordo com o estilo a ser
praticado. A diferença vai desde detalhes básicos, como a forma de amarrar o
sageo, até grandes diferenças, como a proibição de todo e qualquer tipo de
alongamento, para buscar o máximo realismo dentro da prática.
No Seitei iaidō, um seção típica de treino começa com aquecimento e alongamento. Em
seguida faz-se o rito de etiqueta de abertura, que consiste de:
·Kamiza ni rei (curvar-se para o lugar sagrado)
·Sensei ni rei (curvar-se para o instrutor)
·To rei (curvar-se para o katana)
Em seguida inicia-se uma seção de suburi (prática dinâmica
de cortes) e kihonincluindo chiburi e noto.
A depender do tamanho e nível da turma, outras técnicas derivadas dos katas são
exercitadas antes da prática dos katas propriamente dita ser iniciada. A série
de katas, freqüentemente, se inicia com o sensei explicando algum ponto que
deve ser especialmente observado pela classe ou por algum subgrupo específico
da mesma. A isso se segue a pratica formal, em que todos praticam os katas em
conjunto sob o comando do líder do dojo ou um treino livre quando os katas são
praticados sem sincronismo e individualmente, cabendo ao instrutor a observação
e correção de pontos de cada praticante de forma individual. Ao final da seção,
todos fazem a etiqueta de fechamento em conjunto.
Keiko
Esse termo é traduzido como treino ou prática, mas seu significado em
japonês abrange mais que isso. É o estágio em que os movimentos são
aperfeiçoados por repetição lenta, dividindo-se o kata em suas partes
componentes e pela contextualização da técnica em situações e confronto real. Com
o tempo, o praticante começa a entender os princípios de Metsuke (correto uso
dos olhos), Seme (pressão sobre o adversário) com o objetivo de controlar o
adversário. Durante o keiko também são apreendidos os conceitos de maai (distância
de combate) e ma (tempo - timing).
Organizações
Por ser iaidō um termo amplo que abrange uma ampla gama de práticas, estilos e
associações, existem diversas organizações que congregam os praticantes.
Graduações
As graduações no iaidō dependem do estilo que se pratica.
Escolas
Seitei iaido
Instituído no ano de 1968 pela ZNKR (Zen Nippon Kendo Renmei - Federação Japonesa de Kendô),
com demonstração pública no Kyoto Taikai, e atualmente regulamentado em âmbito internacional
pela FIK, o Seitei iai é um conjunto de katasestabelecido
para a prática do iai. Recebeu novos Katas em 1980 e 2001.
A ZNKR, foi fundada em 1952, imediatamente seguindo a restauração da
independência japonesa e o fim do banimento das artes marciais no país. Para
popularizar o Iaido e tornar mais simples o aprendizado dos praticantes de
Kendo, um comitê de mestres foi estabelecido. O comitê selecionou técnicas
básicas do currículo das principais escolas de Iaido para criar o ZNKR Iaido.
Em 1969, a ZNKR apresentou o currículo do Seitei com sete Katas de Iaido. Esses
Katas foram baseados em diversas entre as escolas mais tradicionais, em
especial Musō Jikiden Eishin-ryū (無双直伝英信流), Musō Shinden-ryū (夢想神伝流) e Hōki-ryū (伯耆流). Mais três Katas foram adicionados em 1981 e
mais dois em 2000, formando a série atual de doze Katas. Esses Katas são
conhecidos oficialmente como "ZNKR Iai", ou Zen Ken Ren Iai e
normalmente chamado Seitei ou Seitei-gata. O termo Seitei significa
simplesmente "Padrão" ou "Uniforme".
1969: ZNKR Comitê (7 primeiros Katas): - Danzaki Tomoaki, 9º Dan Hanshi,
Muso Shinden Ryu - Yamatsuta Jukichi, 9º Dan Hanshi, Muso Shinden Ryu -
Yamamoto Harusuke, 9º Dan Hanshi, Muso Jikiden Eishin Ryu - Masaoka Kazumi, 9º
Dan Hanshi, Muso Jikiden Eishin Ryu - Muto Shuzo, Hanshi, 9º Dan Hanshi,
Hasegawa Eishin Ryu - Kamimoto Eichi, 9º Dan Hanshi, Hasegawa Eishin Ryu -
Yoshizawa Ikki, 9º Dan Hanshi, Hoki Ryu - Tsumaki Seirin, 8º Dan Kyoshi, Tamiya
Ryu - Suetsugo Tomezo 8º Dan Kyoshi, Muso Shinden Ryu - Nukada Hisashi, 8º Dan
Kyoshi, Muso Shinden Ryu - Ohmura Tadaji, 8º Dan Kyoshi, Muso Shinden Ryu -
Sawayama Shuzo 8º Dan Kiyoshi, Hoki Ryu
1980: ZNKR Comitê (3 Katas adicionais): - Danzaki Tomoaki, 9º Dan
Hanshi, Muso Shinden Ryu - Kamimoto Eichi, 9º Dan Hanshi, Muso Shinden Ryu -
Hashimoto Masatake, 9º Dan Hanshi, Muso Jikiden Eishin Ryu - Wada Hachiro, 8º
Dan Hanshi, Muso Shinden Ryu - Mitani Yoshisato, 8º Dan Hanshi, Muso Jikiden
Eishin Ryu - Sawayama Shuzo, 8º Dan Hanshi, Hoki Ryu
Katas
A lista dos katas do Seitei iai são, em ordem:
1.Mae前(frente)
2.Ushiro後(trás)
3.Uke-nagashi受け流し(receber e deixar fluir)
4.Tsuka-ate柄当て (atingir
com o cabo da espada)
5.Kesa-giri袈裟切り(corte ao kesa) *kesa ⇒ estola budista
6.Morote-zuki諸手突き(estocada com duas mãos)
7.Sanpō-giri三方切り(corte em três
direções)
8.Ganmen-ate顔面当て(atingir o rosto)
9.Soete-zuki添え手突き(estocada com a mão apoiada)
10.Shihō-giri四方切り(corte em quatro
direções)
11.Sō-giri惣切り (corte
contínuo)
12.Nuki-uchi抜打ち(saque cortante)
Os katas de nº1 a nº3 são realizados em seiza 正座, ou seja, sentado formalmente. O kata nº4 é realizado
em tatehiza 立膝, a forma de se sentar quando se está com armadura (yoroi-kacchû 鎧甲冑). Os demais katas são feitos em pé.
Campeonatos
Os campeonatos, são feitos como os campeonatos de kata de caratê, ou seja, dois competidores executam cinco katas. Para até o
3º Dan são realizados apenas Katas do Seitei Iaido escolhidos pela banca
para cada categoria e podendo ser alterados nas disputas finais, mas para
praticantes a partir do 4º Dan são realizados dois do koryū que praticam de escolha pessoal e três de
Seitei iaidō escolhidos pela banca. Três juízes (sendo um principal e dois
auxiliares) dão o veredito levantando as bandeiras da cor representativa
(vermelha ou branca) do competidor que cada um entendeu que executou melhor os
Katas. A prova deve durar um mínimo de cinco e um máximo de seis minutos, sempre
dentro de uma área retangular demarcada preciamente, sendo que qualquer coisa
fora disso acarreta em desclassificação automática.
Organizações
As atividades do Seitei iaidō são mundialmente regidas e regulamentadas pela FIK (Federação
Internacional de Kendô), fundada em 1970 e sediada no Japão. Até 2008 havia,
filiadas na FIK, 47 entidades representantes de países.3
No ano de 2006 a FIK passou a ser membro da General Association of International
Sporting Federations (GAISF), entidade máxima do esporte mundial, que inclui
outras entidades como FIFA, FIBA, FIVB, Federações Internacionais de Aikido,
Judo, Jujitsu, Karate.4
No Brasil o representante da FIK é a CBK (Confederação Brasileira de Kendô),
reconhecida também pelo Ministério dos Esportes5 como entidade reguladora da prática do iaidô,
kendô e jodô.5
Nos últimos anos vem crescendo muito a prática do iaidō em dojos de kendō filiados à CBK em diversos estados do Brasil,
como São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Bahia, Espírito Santo, entre outros.6 Existem
também entidades filiadas à CBK exclusivamente para a prática do iaidō, como a Aizen no DF.
Em Portugal a representante da FIK é a Associação Portuguesa de Kendô
(APK), que também promove a prática do iaidō.
Em todos os dojos de entidades ligadas à FIK é amplamente estimulado que
os praticantes aprendam também estilos tradicionais (koryū), visto que nos exames é obrigatória a
demonstração de ao menos dois katas de iaidō koryū, além dos katas de Seitei iaidō. Um dos estilos mais praticado é o Musō shinden-ryū, devido a sua estreita ligação com o Seitei
iaidō, mas no Brasil também existem muitos praticantes de Muso Jikiden Eishin
Ryu.
Graduações
No seitei iaidō, a graduação obedece aos ditames da FIK com uma banca examinadora,
sendo regulamentado no Brasil pela CBK. Atualmente, a graduação segue a
seguinte progressão:1º kyu e em seguida 1º dan ao
8º dan (o grau mais alto). Paralelamente, existem títulos que
podem ser conferidos de acordo com as contribuições do praticante à arte.
Atualmente, existem três: Renshi (praticante avançado), Kyôshi (praticante
professor) e Hanshi (praticante modelo). O título de Renshi pode
ser conferido para praticantes a partir do 6º dan, o de Kyôshi a
partir do 7º dan e o de Hanshi, o mais elevado,
pode ser conferido apenas para praticantes que atinjam o 8º dan.
Todos os títulos japoneses marciais são inspirados no passado do espada:
Hanshi, por exemplo, corresponde a "Grão-Mestre de Armas". A partir
do século 17, os títulos marciais da espada foram adotados para o conjunto das
Artes Guerreiras (Sobujutsu) e depois para as "Artes Marciais
Verdadeiras" (Sobudo).
Nos exames cada praticante deve se realizar 5 Kata. Até a graduação de
3º Dan são realizados Katas apenas do Seitei Iai, e a partir do
4º Dan os dois primeiros Katas devem ser do Koryu que o praticante treina
e os três seguintes do Seitei Iai. No dia do exame a banca examinadora escolhe
e anuncia os Katas de Seitei Iai a serem executados por cada graduação, não
obrigatoriamente os mesmos para todas as graduações.
Toho iaido
A Federação Japonesa de Iai (ZNIR, Zen Nihon Iaido Renmei) possui um
conjunto padronizado de cinco katas denominado Toho iaidō. É, em essência, o equivalente desta federação
ao Seitei iaidô da FIK. Os cinco katas citados acima advém de cinco diferentes
estilos:
Porém a importância de Hayashizaki Jimsuke Minamoto-no-Shigenobu, no
século XVI, é inegável, dada a grande popularidade que o iai alcançou no período Edo (1603-1867). Grande parte dos estilos existentes ainda hoje de iai
tem como raiz o Musō Hayashizaki-ryū, seu estilo original.
As técnicas de saque da espada são bastante antigas, mas a maior parte
das conhecidas atualmente foram (re)concebidas por Hayashizaki. Assim sendo, é
comum se aceitar que ele foi o "criador" do iai, mas o mais correto
seria afirmar que ele é o Chûkō no So (em japonês: 中興の祖; lit. revitalizador da arte).
Dentre estilos anteriores Hayashizaki que possuem técnicas de iai merece
destaque o tenshin shōden Katori shintō-ryū, o mais antigo estilo existente. A existência de técnicas no Katori
shintō-ryu atesta sua antiguidade e importância ainda antes do período Edo.
Os dois estilos mais difundidos na atualidade são:
O tenshin shōden Katori shintō-ryū (em japonês: 天真正伝香取神道流) é o mais antigo estilo de
kobudo existente. Foi fundado por Iizasa Chosai Ienao há aproximadamente 700
anos.
Possui 16 katas de iai em seu currículo, divididas em três conjuntos:
1.Omote no iai : 6 katas
2.Tachiai battōjutsu : 5 katas
3.Gokui no iai: 5 katas
O Sensei Jorge Kishikawa é Shidosha (mestre) e representante do estilo
na America do Sul.
Estes katas são demonstrados anualmente ao publico em geral, no Dia do
Samurai (24 de abril),instituído em São Paulo e Paraná, na data de seu
aniversário.
Suio-ryu
O suiō-ryū iai kenpō (em japonês: 水鷗流居合剣法) foi fundado por Mima Yoichizaemon Kagenobu
(1577-1665), que em sua juventude estudou o estilo Musō Hayashizaki-ryū, além de técnicas de naginata dos Yamabushi
(guerreiros das montanhas).
No suiō-ryū, além das técnicas de iai executadas solo, também se pratica o kumi
iai, katas de iai executados em duplas. Visa a aplicação direta do iai em
combate.
O 15° Soke é o mestre Katsuse Yoshimitsu. Atualmente o estilo continua
sendo praticado no Japão, Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos e Europa.
Na America do Sul o estilo é representado por Jorge Kishikawa, discípulo
do Soke Katsuse Yoshimitsu.
Sekiguchi-ryu
O sekiguchi-ryū iai (em japonês: 関口流) é um estilo de kobudo desenvolvido no Japão
feudal há 400 anos.
Foi fundado orinalmente como um estilo de jujutsu (técnicas de combate desarmadas) por Sekiguchi Yarokuemon Ujishin.
Seu filho mais velho, Sekiguchi Ujinari, foi seu sucessor, e adicionou as
técnicas de espada, que constituíram o iai do estilo.
Durante o período Tokugawa, o sekiguchi-ryū se difundiu por todo o Japão. Posteriormente, o
estilo se dividiu, sendo que osekiguchi-ryū jujutsu mantém as técnicas de mãos vazias (mas ainda praticando uma
pequena parte das técnicas de espada) e o sekiguchi-ryū iai, que ensina o currículo
completo das técnicas armadas da escola.
O sekiguchi-ryū iai chegou ao século XX através do 14° Soke (grão mestre), Aoki Kikuo (também Soke do
estilo niten ichi-ryū).
Atualmente o estilo se encontra representado por discípulos de Aoki
Soke, como o Shihan Gosho Motoharu, Yoshimoti Kiyoshi e Yonehara Kameo (15°
Soke).
O estilo se encontra razoavelmente bem difundido no Japão e no Ocidente.
No Brasil é ensinado pelo Sensei Jorge Kishikawa, que é discípulo do Shihan
Gosho Motoharu nos estilos niten Ichi-ryu e Sekiguchi Ryu.
Muso shinden-ryu
Esta escola descende diretamente de Hayashizaki Jinsuke Minamoto no
Shigenobu, por ser uma derivação do estilo Musō jikiden eishin-ryū.
O Musō shinden-ryū (em japonês: 夢想神伝流) foi um estilo criado por Nakayama Hakudō (1869-1952) no início do século XX, foi originalmente chamado Musō hayashizaki-ryū. Pode-se traduzir Musō shinden como uma escola "transmitida em sonho por divindade." ou
"inspirada por sonho divino." ou "transmitida por visão
divina."
Hakudo Nakayama, devido a sua diversificada experiência em técnicas de
esgrima, seu estilo, inicialmente, ostentou um desorientador arranjo de
técnicas. Então ele desenvolveu um currículo estruturado dividido em shoden
(curso primário), chuden (curso intermediário) e okuden* (curso superior) e
nakayma-sensei franqueou as técnicas a todas as pessoas interessadas. (antes só
pessoas altamente recomendadas poderiam estudar seu estilo).
Ela se divide em três níveis:
·Shoden (básico)- Ômori-ryū - com 12 Katas
·Chuden (intermediário) - Hasegawa Eishin-ryū - com 10 Katas
·Okuden (avançado), este subdivide-se em:
·Tate Hiza no Bu com 8 formas ·Tachi no Bu com 10 formas ·Seiza No Bu 3 formas.
No Brasil um dos grandes conhecedores desse estilo é o Sensei Toshihiko
Tsutsumi, que treinou com alunos diretos de Nakayama Hakudō. Outro expoente importante é Jorge Kishikawa, discípulo direto de Kaminoda Tsunemori (8° Dan HanshiIaidô)
Cada estilo possui sua própria organização. No Japão existe a Nihon
Kobudō Kyokai, que congraga os praticantes dos etilos clássicos não só de iaidô,
mas do kobudô em geral. A Nihon Kobudō Kyokai tem também o objetivo de validar os dados históricos dos
estilos, certificando ou não a linhagem das escolas em questão.
No Brasil existem diversos membros da Nihon Kobudō Kyokai associados à Confederação Brasileira de
Kobudô. São membros do estilo suiō-ryū.
Na Confederação Brasileira de Kobudo (CBKob), são ensinados estilos
tradicionais (principalmente Suiō-ryū, Musō shinden-ryū, tenshin Katori shintō-ryū e sekiguchi-ryū).
Estilos tradicionais também são ensinados na Sociedade Brasileira de
Bugei (SBB) e no Aizen Dojo.
A Nihon Kobudō Kyokai não reconhece alguns estilos como koryū, embora sejam amplamente praticados. Dentre esses estilos destacam-se shintō-ryū ensinado no Dojo Shokakukan e o kaze no-ryū ensinado na SBB.
Dentro dos Dojos filiados à CBK também é amplamente estimulado o estudo
de iaidō koryū, havendo a prática de estilos variados, considerando inclusive a
obrigatoriedade da demonstração de ao menos dois Katas de koryū nos exames de graduação.
Na América do Sul há grupos conhecidos na Argentina, Brasil e Chile.
Entre os estilos praticados se destacam Seitei iai, suiō-ryū, sekiguchi-ryū, tenshin shōden Katori shintō-ryū, Musō shinden-ryū e Musō jikiden eishin-ryū.
Graduações
A graduação nos koryū varia muito dependendo do estilo. Cada estilo possui um currículo
diferente de técnicas e a graduação representa o grau de conhecimento das
técnicas.
Antes disto, a maioria das escolas de artes japonesas tradicionais
utilizavam o complicado sistema Menkyo como uma forma de licenciar os
estudantes aos níveis técnicos de habilidades particulares.
O estudo técnico é comumente dividido em quatro den:
·Okuden 奥伝 – Tradição Oral de Mestre para Discípulo (título: Shiran).
·Hiden – Ensinamentos Secretos.
Os certificados de graduação técnica costumam ser:
·Meikyo – Após ser aprovado no Shoden.
·Kaiden – Após comprovado conhecimento místico e
superior. Título raro, que significa "Igual ao Mestre". Esse termo é
muitas vezes utilizado em vez de "Menkyo-Kaiden", espécie de
certificado concedido pelo Mestre no qual declara por escrito ter
"ensinado todo seu saber ao portador". Raramente um Mestre concedia
um Kaiden, por vezes um ou dois em toda sua vida. Por outro lado, sem um
Menhyo-Kaiden de seu precedente mestre, era impensável ao discípulo ser aceito
por outro Mestre de igual ou maior valor.
·Meikyo Kaiden – após comprovado maestria e
domínio.
Nos estilos antigos (koryū) são em forma de makimono (pergaminhos), onde a graduação máxima se
completa com o Menkyo e Menkyo Kaiden. Não há dan ou kyu e dependem
exclusivamente do mestre Shihan, responsável pelo estilo.
Embora seja incomum, algumas escolas adotam o sistema de graduações
modernas ("kyu" e "dan"). Existem estilos que possuem as
duas formas de graduações coexistindo.
Aspecto filosófico
A espada no iaidō é um instrumento espiritual, sem dimensão material. As horas de
treinamento dedicadas para que se possa atingir o domínio da técnica são horas
em que o praticante entra em contato com seu eu interior (espírito).
O iaidō é uma mistura única de ética Confucionista, de métodos introspectivos
do Zen-budismo e da filosofia Taoísta, tudo isso temperado pelo rigor do bushido. O Iai proporciona um estado mental focado e sereno ao praticante,
podendo ser entendido como uma disciplina meditativa.
Como uma arte marcial pode ser efetiva quando é praticada somente com o
uso de katas contra oponentes imaginários? Essa questão é mais profunda e
difícil de responder do que pode parecer inicialmente. O problema começa na
definição de 'efetiva' e que efeito se deseja obter. Claro que nos katas não
existe oportunidade de comprovação da técnica do praticante em combate, como
existe no kendō. O rigor na repetição dos movimentos do kata não deixa também espaço
para adaptações em resposta às ações de um adversário real.
Além do estudo das técnicas, existe também o aspécto filosófico que
envolve cada um dos diversos estilos de iaidô, influenciando inclusive na forma
como as técnicas são executadas. Um praticante de um estilo tradicional (koryū) deve conhecer tais influências.
Como uma arte marcial contextualizada no mundo atual, é muito fácil
enxergar, superficialmente, o iaidō e outras formas de esgrima como extemporâneas, simplesmente por não ser
usual nem esperado que alguém saia pelas ruas portando uma espada.
O que deve ser notado no entanto é o que está por baixo dessa observação
superficial. O que deve ser observado é o modo como o praticante deve se portar
para evitar conflitos. Isso foi explicado milênios atrás por Sun Tsu em sua obra A Arte da Guerra e, posteriormente, por muitos estrategistas. O praticante que
treina com dedicação e correção e com a orientação de um Sensei, desenvolve a
habilidade de reconhecer situações difíceis e de como evitá-las antes que se
tornem problemas de fato. Mesmo sendo inevitáveis ele aprende a enfrentá-los
antes que atinjam grandes proporções. Mesmo algumas sendo inevitáveis, o
praticante aprende a manter um estado de espírito e postura corporal e mental,
que não oferece, ao adversário, oportunidade de agredi-lo. Essa é a essência do
iaidô, do kendô e de outras artes-marciais que não se transformaram
simplesmente em esportes comerciais.
O kanji 'I' também pode ser lido como 'itte' e 'ai' como 'awasu' na frase
'Tsune ni itte kyu ni awasu' que significa: seja onde e o que estiver fazendo,
sempre esteja preparado. Como preparado entende-se não só estar alerta, mas
também ter treinado rigorosamente para que, se necessário, uma técnica decisiva
possa ser utilizada para terminar um conflito. Golpes com uma katana
normalmente são cabais, mas esse não é o ponto. No mundo dos negócios a pessoa deve
estar preparada e agir decisivamente quando necessário. Será que a pessoa está
preparada, tem a autoconfiança necessária?
Quando um amigo desaponta uma pessoa, ela consegue lidar bem com esse
tipo de situação, entendendo completamente as implicações e as conseqüências de
suas ações? Ao cruzar uma rua e um carro aparecer como do nada ou algo cai sob
sua cabeça enquanto está caminhando, seu corpo se encontra suficientemente
equilibrado e sua mente suficientemente clara para lidar com esse tipo de
situação e se colocar em segurança? Todos esses são exemplos práticos da
aplicação do iaidô no mundo moderno.
A prática do iaidō é educativa tanto para jovens estudantes, como para executivos,
gerentes e empresários, em resumo para todo aquele que precisa e quer aprimoramento
nos principais valores humanos e de cidadania.