Por Peter Goldsbury Traduzido por Carlos Cavalcanti Instituto Takemussu Recife.
Fonte Aikido Journal #119(2000)
O Aikido é uma arte marcial repleta de paradoxos, e alguns desses estão na forma em que os instrutores introduzem e ensinam a arte, especialmente os não-japoneses. Eu mesmo comecei a praticar o Aikido por este ser um esporte não-competitivo. Eu fui alimentado com a tradicional dieta inglesa de cricket e rugby, e correr uma maratona era uma atividade dolorosa e solitária. O Aikido parecia muito mais caloroso. Você tem que ter um parceiro, não há competição, então você pode proceder no seu próprio ritmo sem ter que quebrar o pescoço treinando para o próximo campeonato. Ao invés disso havia apenas um treinamento simples: os mesmos movimentos complexos do Aikido repetidos centenas de vezes. Nós também somos ensinados que o Aikido pode ser praticado por pessoas de qualquer faixa etária e requer total abstenção de força física. Por outro lado, o nosso instrutor decidiu que nós não estávamos em boa forma (ele não viu uma contradição com o que ele havia dito sobre força física) e então nós corríamos regularmente 10 milhas antes de praticar 2 horas e Aikido. Como um corredor de longa distância eu não estava impressionado com isso, mas eu desafio qualquer pessoa a me dizer que esse regime não necessitava nada mais que “a total abstenção” da força física. Agora, 30 anos depois, é claro que eu sei que tudo tem seu lugar no Aikido, como no plano divino para a humanidade.
O Aikido me foi apresentado por um dos meus professores como uma arte de benefício mútuo. Através do ritmo de ataque e defesa, os parceiros de Aikido contribuem para o bem estar um do outro. Aparentemente o Aikido possui fortes laços com o Xintó, uma antiga crença japonesa que possui muitos adeptos e ancestrais, possuindo o objetivo de proporcionar o bem estar para toda a humanidade. Também fomos ensinados que o imperador exercia uma forte influência nesta crença, mas sua conexão com as deidades Xintó e com o Aikido nunca foram explicadas claramente.
Outro forte professor negava a conexão do Aikido com o Xintó, deixando claro sua conexão com o Zen-Budismo. Nos foi dito que o Aikido foi desenvolvido baseado nas antigas artes de espada dos samurais, nas quais todos abraçavam o “zazen”. Nós deveríamos fazer o mesmo. Nós éramos encorajados a sentar em posturas dolorosas e passar uma parte do tempo pensando profundamente no nada. Aqueles que não faziam isto recebiam coragem na forma de esforços físicos (esforços suficientes para derramar sangue e causar lesões) através dos ombros com um instrumento chamado “kyosaku”. Este treinamento tinha como objetivo aprofundar nosso amadurecimento espiritual do Aikido e de suas técnicas, o qual quase nunca funcionava e terminava com punições severas. Nós também éramos encorajados a treinar com espadas de madeira, gravetos e facas, sem ao menos saber o porquê, pesando o fato de que eram armas e fazia o treinamento mais realista e eficiente. O professor era visto como um monstro pelas pessoas de fora, mas amado por seus alunos. Eu mesmo penso que, de todos os professores que eu tive, ele foi o que mais forçou seus alunos a encarar questões sérias e preparou-os para responde-las seriamente: Porquê eu estou praticando o Aikido? Qual a minha verdadeira visão da arte? Será que eu realmente acho que o Aikido irá mudar a minha vida e se sim, como? Ainda outro professor, um homem maravilhoso na início dos seus 70 anos, que adorava neutralizar severos ataques dos jovens no dojo, não possuía nenhum vínculo com o zen. Ele negava que O-Sensei praticou o zen e afirmava que ele sempre dizia o bordão “A Espada antes do Zen”. Ele dizia que o tempo que gastaríamos praticando o zen seria muito mais útil praticando com a espada, especialmente numa tradicional arte de espada como a Katori-Shinto-Ryu. Mesmo assim ele não teve muito tempo para praticar com a espada conhecida como Aiki Ken. Todos estes professores aparentavam ostentar uma relação de proximidade com O-Sensei depositavam nele as raízes de onde vinham as verdades em suas posições. Isto sempre me fez imaginar como poderia ser possível que instrutores de uma mesma arte marcial, dedicados a trazer a verdade para milhões, poderiam oferecer três versões contraditórias do Aikido e também ensinar de também forma tão diferente? As diferenças marcantes entre professores e metodologia de ensino levam à outro lote de perguntas, especialmente para os praticantes ocidentais da arte: é melhor para o praticante de Aikido ter apenas um professor ou vários simultaneamente, ou uma sucessão de professores, e em último caso, quem seria seu verdadeiro mestre? Existe um progresso natural individual no caminho do Aikido? Em quais circunstâncias nós devemos abandonar nosso próprio professor e ir em busca de um outro?
Ocidente x Oriente
Eu acho que tais questões são relevantes para um grande número de praticantes de Aikido e não somente para aqueles que vivem fora do Japão. Eu acho que o paradigma de uma vida baseada no Aikido estão ligadas à um sistema de cultura e educação que são fundamentalmente japoneses e essa situação não é pra ser imitada. O próspero aikidoísta vai até um dojo, se matricula e permanece lá durante toda a sua vida. O shihan responsável pelo dojo, que é supostamente uma pessoa que vive bem com todos os lemas do Aikido (por isto ele(a) é um(a) shihan) passa a ser responsável por esta pessoa (a que entrou no dojo). Mesmo que essa pessoa só pratique uma vez por semana, ou até mesmo uma vez por mês, ele ainda deve ser considerado um deshi (discípulo) daquele shihan, e obviamente esta relação vai se aprofundando com o passar dos anos. O aluno pode, por ventura, abrir um dojo anexado, mas este ainda será parte da organização do seu shihan. Mas se ocorre um conflito por qualquer razão, então o contato com o shihan passa a ser sério. O aluno passa a ser uma persona-non-grata no grupo e tem que sair e procurar uma outra organização ou se auto-instruir. Há um grande número de praticantes de aikido desagregados de suas organizações, até mesmo no Japão.
A educação dos países ocidentais procede com outros valores e, enquanto for praticado um Aikido do mesmo nível do praticado no Japão, esses valores também funcionam. O papel do professor não é totalmente perfeito e é esperado dos estudantes que possuem certa cultura que entendam isto. Os honorários do dojo são pagos, mas alguma coisa deve se esperar em troca: um programa, por exemplo; uma explicação justa do que se esperar; e dos possuidores de graduações mais elevadas, o reconhecimento do seu posto e uma medida de independência. Os alunos são considerados responsáveis por sua educação e costumam fazer escolhas baseadas em possibilidades lógicas, com o professor tendo um papel secundário. É claro que estes são padrões ocidentais, mas a implementação destes depende da largura dessa visão, ou a falta desta, dos shihans (até o presente momento predominantemente japoneses).
As questões levantadas acima talvez revelem diferentes atitudes no ensinamento e aprendizado e sua importância foi retornada como resultado de um treinamento o qual eu escolhi. O instrutor visitante, um shihan respeitado do Hombu Dojo, ainda enfatizou que a época homérica no Aikido, em que os discípulos ascendiam ao Wakamatsu-cho e pessoalmente dedicavam sua total atenção ao Fundador, tinha acabado e aquele Aikido moderno era muito mais para uma operação comercial. Mas ele também enfatizou que nos dias atuais o Aikido precisa de livros e textos. Eu fui notificado que o Aikido é ensinado nas faculdades japonesas e que tem que se seguir um programa comum. Esta implicação parece estar claramente no fato de que no mundo atual do Aikido, ensinar não deve ser uma vontade súbita do professores. Os métodos de ensino tanto quanto os livros, e talvez vídeos, são necessários. O instrutor afirmou que agora ele oferece leituras atuais sobre o Aikido nas suas aulas. Observe que este instrutor estava interessado em ensinar Aikido no Japão para japoneses, e não mundo afora. Ele aprendeu seu Aikido diretamente das mãos do Fundador, o qual não ensinava formalmente (do ponto de vista que ele não cobria uma área de ensino específico em um tempo específico), que, é claro, não usava textos ou quaisquer outros tipos de artifícios visuais, e nem mesmo dava nomes às suas técnicas.
A atitude deste professor está diretamente oposta ao meu primeiro professor, que também foi ensinado pelo Fundador, da mesma forma. Ainda definitivamente na forma homérica, ele considerou que a mais importante questão dos alunos de Aikido era em considerar seus próprios compromissos com a arte (apenas 100% dos compromissos eram realmente considerados) e encontrar o mestre correto. Se essa questão não fosse arquivada, não haveria motivos nem para começar a praticar a arte. Por este motivo, ter uma sucessão de diferentes professores teria valor apenas se esta procura levasse à uma conclusão. É claro que se alguém encontrar um verdadeiro mestre todos os seus mestres anteriores não tiveram valor. Entretanto, como o instrutor visitante que prezava por livros, este professor ensinou gerações de altamente capacitados e técnicos alunos de Aikido.
Um x Vários
No resto deste artigo eu irei discutir a questão à respeito se este professor está correto, com um olhar nas questões levantadas primeiramente relacionadas à educação, compromisso e maturidade. Eu irei considerar dois aspectos: (1) que um estudante compromissado que tem apenas um professor durante toda a sua vida no Aikido; e (2) um aluno compromissado que teve vários professores, simultaneamente ou sucessivamente. Eu, aqui, não tenho em mente um professor profissional de Aikido. Como para um monge, este é um tratamento muito especial designado para poucos. Logo, eu estou pensando nas centenas de alunos do Japão e proximidades que organizam suas vidas em torno do Aikido, que sempre freqüentam o dojo independente da distância de suas casas, e que fazem da prática regular o foco da sua vida social, de suas vidas inteiras, de fato.
Um...
Eu suponho que o primeiro caso, onde estudantes compromissados treinam com apenas um professor, é tido como uma norma no Aikido, pois não tenho nenhuma evidência para me apoiar (a sociologia do Aikido ainda não foi aceita como uma disciplina) além da atual literatura do Aikido e a minha própria experiência na prática do Aikido em 10 diferentes dojos em 3 países diferentes. Até mesmo no Hombu Dojo em Tóquio, onde há diferentes instrutores e o praticante é encorajado a aceitar cada prática dos instrutores do jeito que ela vier – e com o passar do tempo o estudante vai escolhendo um instrutor como o seu preferido.
Ter apenas um professor durante toda a sua prática do Aikido pode ser muito vantajoso. Há apenas um estilo para se aprender, mesmo que este mude durante os anos; o método de ensino se torna familiar e a relação entre professor e aluno torna-se mais íntima. Se o professor aprendeu suas técnicas diretamente do Fundador ou do seu filho (N.T.: Kisshomaru Ueshiba ), é de se esperar que o seu nível técnico seja bastante alto. Eu acredito que o importante em um método constante na execução das técnicas é muito importante nos primeiros graus até o 4º Dan. Isto te fornece um forte fundamento de como construir e uma base real para um futuro criativo. Num nível mais profundo, a necessidade de esquecer suas próprias perguntas, silenciar suas objeções e preferências pessoais e moldar suas técnicas baseadas 100% nas do seu professor sempre foi um elemento essencial no treinamento das artes marciais.
Outro problema com meu professor quase místico foi que achar um verdadeiro mestre - ou abandonar o treinamento, é o que dá um pacote de responsabilidades e liberdade ao aluno, que não faz necessariamente o que procura fazer. É claro, ele pode replicar dizendo que o estudante vai saber imediatamente quando ele encontrar o professor certo, mas este é precisamente a questão. Se o professor não for O-Sensei, então o que importa é muito mais simples. A situação remete aos dias dos samurais no Japão, quando jovens sem nada melhor pra fazer saíam para procurar aventura e acabavam discípulos de um mestre ou mortos. É esquecido algumas vezes que essas pessoas sentavam no topo de uma pirâmide social e eram apoiados por centenas de pessoas que não tinham instrução para considerar a questão em encontrar seu verdadeiro mestre. Um aspecto importante no Aikido como uma arte marcial pós-guerra é que esta foi feita para esse tipo de pessoas também.
Eu acho que uma escolha consciente é feita por poucos praticantes de Aikido, por uma simples razão que fora dos grandes centros populacionais existem poucos professores, mesmo no Japão. Uma pessoa que escuta algo sobre Aikido, vai assistir uma aula no clube mais próximo, filia-se e se torna um membro regular, possivelmente de uma grande organização liderada por um shihan japonês, com qual ele começa a ter um contato apenas nos exames ou escolas de veraneio, se estas existirem. Sem dar asas à imaginação, esta pessoa pode dizer que escolheu seu professor. Ele deve dizer que teve que escolher uma organização, mas esta é uma outra questão.
A situação é diferente se o estudante filiar-se ao dojo principal, onde o shihan ensina, mas mesmo aqui eu duvido se existe geralmente um processo consciente na escolha. Quais as alternativas? Outra organização de Aikido? Karate?
Há ainda uma dimensão psicológica para o problema, mas isto é difícil de explicar precisamente. Eu acho que está relacionado com o fato de que no Aikido, como em outras artes marciais japonesas, nenhuma distinção é feita entre proficiência na prática da artte e proficiência em ensina-la, eo em liderar um dojo ou uma organização. Isto é simplesmente assumido que, dando a forma, o segundo irá automaticamente segui-lo. O problema pode ser posto de outra forma, em termos Fausticos: sob que condições você deveria vender sua alma para o seu professor de Aikido?
Esta não é uma questão infundada. Alguns anos atrás eu fui avisado por um amigo, com quem eu praticava regularmente, que ele nunca tivera aulas com o Sensei X, porque ele queria "possuir sua alma". A coisa estranha é que eu senti justamente a mesma coisa que meu amigo falou do professor. O problema pe que alguns alunos tentam vender suas almas para seus professores de Aikido e depois, diferentemente do Diabo, não estão equipados pelo seu treinamento para segurar a transação com sucesso.
Num dojo onde eu praticava regularmente, existiam dois irmão praticando também. Ambos praticavam duro todos os dias e tornaram-se pilares referenciais do dojo. Ambos eram jovens e flexíveis e freqüentemente recebiam ukemis do shihan japonês. Suas atitudes, no entanto, eram bem diferentes.
Um possuía uma atitude mais desleixada e ocasionalmente simplesmente não ia onde deveria ir, mas isto nunca lhe causou problemas. Ele reprovou em vários exames para graduação, é claro, mas ainda é aluno do shihan. A questão em escolher seu mestre não foi uma questão que ele poderia ter tido seriamente.
O outro irmão era diferente. Ela tinha decidido conscientemente que seu shihan seria seu mestre e sentia que ele também podia ser aceito publicamente como o aluno do Mestre. O Shihan não aceitou esta situação e, na ruptura que isto resultou, foi deixado aos alunos no dojo que escolhessem as peças da melhor forma que podiam. Nesta época, vários membros pararam sua prática por conta da atmosfera elétrica no dojo. Eventualmente, o aluno partiu para o Kendo, encontrou um outro trabalho e se tornou muito ocupado para a prática.
Eu quase posso ouvir os protestos. "Eu tive um único Sensei por toda minha vida e ele é uma pessoa maravilhosa"... "Eu só senti que entendi o Aikido depois de praticar com o Sensei X", etc. Eu não quero proibir que alguns estudantes (lembre-se, eu sou considerado um dos não-profissionais que escolheram o Aikido como forma de vida, em alguns sentidos) façam conscientemente a escolha do Sensei X como seu professor e aceitem que esta pessoa é o último recurso de sua proficiência na arte - e tudo funcione corretamente (penso que, se não, alguém vai ter que "dar as cartas"). Entretanto, eu acho que esses casos são tão raros que eles não podem ser considerados como uma norma. Não que eu queira negar que as pessoas devam ser aptas à escolher seus professores, se assim desejarem. Mas porque eles tem que escolher, e porque devem escolher um só professor? A questão também pode ser feita por abandonar uma competição, Aikido foi feito para ser um caminho de realização pessoal, penso eu que O-Sensei tinha colocado isto de forma bem diferente. Mas os estudantes de Aikido não têm nenhum objetivo medido com o qual julgar seu progresso ou a qualidade de sua realização pessoal (o que quer que isto signifique).
Entretanto, o que dizer do aluno que treina com vários mestres diferentes ao mesmo tempo? De fato, um número maior dos meus amigos do Aikido são verdadeiros ronin (samurai sem senhor) e regularmente viajam de um lugar para outro, de professor para professor. Eles fazem isto tanto porque são forçados à fazer por conta dos seus empregos, quanto porque eles não querem perder o contato com diferentes formas de praticar o que eles aprenderam. Se perguntados se encontraram seu verdadeiro mestre, eu acho que provavelmente será muito difícil para eles responderem. E porque eles deveriam responder? Estes estudantes levam uma existência um tanto refugiada e algumas vezes têm grandes dificuldades quando vão se graduar. Graduação merece um artigo todo destinado à este assunto, mas, brevemente, um grau é uma expressão (vertical) da relação entre estudante e professor, mas também é um indicação objetiva (horizontalmente) da habilidade do aluno. Ambos são igualmente importantes, em minha opinião, e um estudante não deve ser penalizado pelo sistema de graduação por trocar de professores ou por ter mais de um. O sistema de graduação existe para o estudante e não para outro fim.
...Ou Vários...
Eu acho que o segundo caso, onde as pessoas tem uma sucessão de diferentes professores, é mais usual e neste caso a questão em que qual professor é o verdadeiro mestre de alguém se torna mais acadêmica.
Um problema em ter sucessivos professores é que aprender as técnicas básicas pode se tornar mais difícil. Eu lembro que no meu próprio caso sendo muito desconcertado quando eu era dito em ocasiões sucessivas, mesmo quando gentilmente - apesar da maneira gentil ser usualmente rara - que as técnicas básicas que eu achava já ser um mestre em executa-las estavam erradas. É claro, era minha próprio maneira de fazer as técnicas, para isto foi construído o argumento que os erros pessoais nunca são da responsabilidade do shihan. Eu não quero soar cínico aqui, por ser verdade - e deve ser verdade - que o shihonage, por exemplo, executado por um 6º kyu e por um 6º Dan deve ser diferente em muitos aspectos importantes. Um iniciante tem uma visão limitada da textura do Aikido, por assim dizer, e é por isto que aprender a executar as técnicas básicas exatamente como o professor é tão importante. No meu caso, mesmo com shihans japoneses na bagagem, eu tive que recorrer a livros como o último do Doshu Kisshomaru e e Westbrook´s & Ratti´s Aikido e a Esfera Dinâmica para ter uma idéia mais clara da estrutura. Então, neste aspecto, eu lamento não ter tido um professor nos primeiros 10 anos da minha vida no Aikido.
Contudo, o domínio das técnicas básicas do Aikido é o único aspecto no qual é desvantagem para um estudante compromissado de Aikido ter mais de um professor. Tendo-se muitos professores, o tempo gasto em aprender as técnicas básicas é maior do que as chances oferecidas para obter conhecimento criativo, adaptando a frase de Aristóteles. E a importância que a prática exata de como o professor faz, eu acho que a reconstrução periódica de todo o repertório de alguém no Aikido para suprir as sucessivas demandas de professores é tão importante um treinamento quanto tentar produzir 100% de réplicas de uma técnica de um professor: você tenta fazer isto, é claro, mas muitas vezes.
...Ou Nenhum...
O caso que eu considerei acima é o de alguém que teve uma sucessão de professores, mas que só tem um no momento. Assuntos tão mundanos como trocar de trabalho ou faculdade, casar-se, mudar de casa, freqüentemente requerem do aikidoísta compromissado deixar seu primeiro professor e começar um relacionamento com um novo instrutor e o fato que de isto usualmente toma lugar sucessivamente é uma das desvantagens do Aikido como uma organização. Perguntar ao estudante se ele prefere procurar o verdadeiro mestre, ou abandonar a pratica, é tanto sem fundamento quanto desnecessário.
Contudo, o que dizer sobre o estudante compromissado que treina com vários professores?
...Ou Tudo
Á caminho de chegar a conclusões, eu acho que, tirando-se o fato que praticar as técnicas atuais de Aikido, precisando-se de um parceiro, o Aikido é uma atividade solitária. Porquê não existem competições no Aikido, a arte é muito mais flexível, mais criativa - e ainda mais perigosa e de longe menos delimitada - do que um mero esporte. A conseqüência é que o progresso é muito mais difícil de ser medido, tanto é que muitos dizem que o progresso no Aikido não precisa ser medido, pelo menos num sistema público de graduação de dans. Por outro lado, os princípios humanos são diretamente objetivados e precisam saber como alcançar os seus objetivos.
Em um certo estágio, o Aikido é um cacho de certos tipos de habilidades. É muito parecido com aprender uma língua estrangeira, no sentido de que: (1) admite vários estágios de proficiência, sabendo que todos temos acima de tudo como mira a proficiência de uma pessoa que nasceu neste país onde queremos aprender a língua; (2) o progresso é muito rápido nos estágios iniciais, depois somos levados à um patamar (provavelmente frustrante), onde varia o tempo para cada praticante; (3) quando você se tornou muito bom nisto, você pode faze-lo sem pensar; (4) os problemas psicológicos envolvendo nativos e estrangeiros é paralelo à um certo degrau, ao menos no tempo presente, pelas diferenças entre japoneses, especialmente aqueles que tiveram algum relacionamento com o Fundador, e não japoneses; (5) o professor é tido como importante mas ocupa um papel secundário atualmente. É claro, professores são as únicas pessoas que podem julgar o progresso de alguém, mas eu acho que ninguém que está aprendendo uma língua estrangeira vai se empenhar na busca por seu verdadeiro mestre.
O problema com a metáfora da linguagem é que aprender uma língua é supostamente meramente adquirir uma ferramenta e não uma cultura (que é especificamente verdade, o que acontece com uma famosa língua internacionalmente conhecida, o inglês, eu acho que quem ensina japonês deve ser relutante em aceitar isto sem nenhuma qualificação importante). Entretanto, diferentemente da prática do Aikido, os esforços intelectuais, culturais e espirituais envolvidos em adquirir proficiência numa língua estrangeira nunca é tido como fazer de você uma pessoa melhor.
Então, eu estou no outro final do espectro do professor de Aikido que eu mencionei inicialmente e estou muito feliz em estar neste estado e ainda não tendo encontrado meu verdadeiro mestre. Eu ainda tenho que confessar que eu não o tenho procurado com muita ênfase.
Nota: As visões expressas neste artigo são visões pessoais do autor e não devem ser entendidas sob qualquer aspecto como visões ou polícia da Federação Internacional de Aikido, IAF, do qual o autor faz parte.
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